segunda-feira, dezembro 24, 2007

gingóbéles

"Provaram a massa: ele achou-a boa de sal, ela, que estava insossa; juntaram-se as línguas por uma questão de tira-teimas; ele duvidou da consistência dos filhozes, achou-os massudos; ela, espalhou a massa entre as pernas e disse-lhe que experimentasse outra vez e que, por via das dúvidas e de caminho, visse se lhe faltava abóbora. Depois, como achasse os coscorões doces demais, sacudiu-lhes o açucar em excesso no peito dele e lambeu-o de cima a baixo, que na natureza nada se perde. Ele, mortinho por experimentar o recheio do peru (receava pelo excesso de aguardente e que pedisse mais pinhões), mas o papo do animal não fora devidamente trabalhado, faltava-lhe o debulho; então, ele recheou-a a ela e provou-a, rindo-se ambos à perspectiva de idêntico lambuzanço de outros orifícios (estes mais abençoados), por parte das tias velhas na noite da consoada, longe estas de imaginar o alcance das sessões de prova. Afinal, estava perfeito, o recheio, estava no ponto - aliás, estavam os três no ponto: ela, ele e o recheio. Nos entremeios, ela corria para o fogão, a mexer o grão misturado com o açúcar, o limão e o pau de canela, desconfiada da costumada excelência das azevias, com tanta interrupção delambida. Para mais, ele vinha-lhe por trás, levantava-lhe o avental, agarrava-a pela cintura e mordiscava-lhe, à vez, os lóbulos das orelhas, a curva enfarinhada do pescoço e os frutos cristalizados, com que ia coroando o bolo rei. Num outro bico do fogão, cozia a massa dos sonhos que ela tentava, em vão, descolar das paredes do tacho, quase esturro, culpa de um sorver mais prolongado num recanto da sua anatomia, para aferir da fluidez e do travo a laranja da calda de açucar. Chegou a vez de ele bater os ovos para as rabanadas; era sempre ele, nas rabanadas. Costumava dizer, a meter-se com o feminismo empinado dela (próprio de quem não tem razões de queixa), que fazer rabanadas era coisa de macho, porque isto de amaciar pão duro com açucar e gemas batidas, dando origem uma delícia comestível, era, no fundo, o que os homens faziam às mulheres. Ela fingiu-se ofendida e virou-lhe as costas, passando-lhe os tarecos e os ingredientes para trás, sem o olhar; depois, voltou-se, rodeou-lhe a cintura nua com o avental e deixou-o virar a cozinha do avesso (como fazia com ela), tendo o cuidado de se abster de brincadeiras de pele durante a fritura. Na noite aprazada, estava tudo delicioso, diziam-lhes, e eles sorriram-se, pois claro, como é que poderia não estar, afinal, o ingrediente secreto que nos faz a todos lamber os dedos, chorar por mais e ser felizes a espaços, não é, seguramente, um qualquer cardamomo da costa do Malabar. O ingrediente secreto é (o) outro."

4 Comments:

Blogger f said...

Amor...
Sentimento...
Ingrediente Secreto que te faz sorrir para o Outro...
Gosto de Ti...
Amo-me a mim ao amar-te perdidamente...
Meu...
ou Teu??
Amor...

Bom...do Teu Bom
Abr

12:57 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ESte texto é meu e escrevi-o no blogue www.controversamaresia.blogspot.com. Copiar é feio e é crime. Agradeço que identifique a autoria do mesmo, com o respectivo linque, ou que retire o texto.

Sofia Vieira (vieira do mar)

12:09 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

ó vieira do mar deves pensar que estás a falar para o Pai Natal! Tanta indelicadeza...
Pois! Recebi este texto via email, gostei, muitos parabéns, resolvi publicá-lo aqui. Publiquei. Era de esperar que ficasses contente, não? Mais: reparei agora que o texto está no teu blog escrito com aspas no inicio e no fim, logo, é de pensar que o autor não és tu. Publiquei o texto TB com aspas. Ou pensas que estás perante algum plágio? Mas tudo isto é pouco importante... MUITOS PARABÉNS pelo texto e desejos que a azia natalícia te passe depressa. e o criminoso sou eu? o criminoso sou eu? Vai aparecendo.

2:13 da manhã  
Blogger f said...

Vim dar com um bonito panorama... Srª Dª vieira do mar... nos tb somos do mar e lá não há nenhum ditador!!! Cada peixe nada para o lado que entende! até as vieiras que não nadam...mas falam pelos vistos!

Houvi dizer que aqui na net...a informação circula livremente mesmo que não seja pa circular...se a colocas devias saber que todos tentam não infringir o espaço do outro...mas aqui na net acontece muitas vezes... sem qualquer atitude de prejurio ou ofensa...da parte do outro... pois é este o objectivo da net.. a LIVRE circulação e partilha da informação aqui colocada!!!!!

Espero que tenhas entendido... Fazes ideia do que é a internet!?ou a vida no mar!
Se fazes! então isto só pode ser uma armadilha! és da ASAE...

2:42 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home