Hoje é o funeral do meu avô

José Vieira Sousa Mendes 11/9/1915-20/02/2009.
Vieira, És muito grande. Transmitis-te que a Vida é para ser levada de uma forma simples, descontraída, no entanto com grande consciência individual. Com as tuas pequenas peças de teatro em família, contavas histórias, apreendíamos e divertia-mos. Do nada fazias muito, do muito partilhavas, de um pedaço de madeira tu fazias sulipas para calçar os descalços da freguesia, fazias os que os modernos chamam reciclagem, de um pedaço de madeira e fitas de persianas usadas, tu calçavas crianças. A tua alimentação, batatas, couves, arroz, massa o caldo, coisas simples, mostras-te como foi possível viver a vida sem medicamentos, sem doenças, a única que te atingiu foi o glaucoma, se fosse legal tínhamos fumado uma erva. Foste sempre atleta magro e alto, deixavas sempre um pouco de comida no prato, deixa-vas espaço para que a gula não fosse consolada, este domínio da mente esteve sempre presente. Como tu brincavas as Estatuas, bastava uma máquina foto e um bom cenário, a tua posição de agora estou aqui parado como um Ginasta Grego Antigo, agora já não sou. Depois de ficares cego, recordo-me que me transmitiste paz, “agora vou ter tempo para mim”, na morte já não teve que fechar os olhos, pediu um chá, bebeu na companhia da minha Mãe do primo Paulo, tranquilamente partiu, amigos tenho que ir porque tenho gente a minha espera para enterrar o corpo, porque o meu Avô esta sempre com todos nós.