quinta-feira, novembro 08, 2007

Q.Luxo:-)

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria-prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.

Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.

Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem Memória política, histórica ou económica. Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.

Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.

Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não. Não. Não. Já basta.

Como "matéria-prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...

Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa.

E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados!

É muito bom ser português. Mas quando essa Portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...

Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um Messias.

Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.

Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que nos anda a acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.

Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR AO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO DE O PROCURAR NOUTRO LADO.
E você, o que pensa?.... MEDITE!


EDUARDO PRADO COELHO

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Eduardo Prado Coelho, nome presente no obituário de Agosto passado. -Paz à sua alma.
Homem dado a polémicas e a ódios caseiros, ao que se diz.
Pouco me entusiasmaram as suas diárias crónicas no jornal "Público”. Considerei-o como fazendo parte da orquestração do sistema dominante no poder que engendra e manipula a sua própria crítica; insurgindo-se contra isto e aquilo mas geralmente num tom pouco consistente, como que criticando para que outros não critiquem de forma mais contundente provocando “estragos maiores”, ocupando um espaço que ao poder da jeito ser ocupado assim, como se da varanda lisboeta e através do óculo elitista do literato se podesse intuir o pulsar da alma minhota ou do doce preguiçar alentejano. Tal como nesta presente crónica, pois se escondem os GRANDES crimes através do avivar do remorso dos “crimezinhos de algibeira”. Não que os crimezecos da populaça em geral sejam desculpáveis, mas que não sirvam para escamotear os crimes de colarinho branco, esses sim indutores da referida “esperteza” dos portugueses. Querem explicar-me como sem Euros (não será esse o crime que vale a pena referir para meditar?) pode um português “formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.”
Na cegueira da competitividade, nos canais por onde circulam os capitais especulados que servem para enriquecer poucos e empobrecer quase todos, nos centros de decisão que já não moram no país, quiçá já só nas bolsas, nos casinos e no tráfico de influencias/interesses, nos shoppings e nos telejornais, já para não falar do sinistro da falácia a que nos tem remetido a tão cara “democracia”, não será este o terreno donde brota a “"CHICO-ESPERTICE PORTUGUESA"”?

Olho para o espelho e sinceramente não vejo um dos responsáveis pelo estado lastimoso a que o país (e já agora o Mundo) está votado. E aprecio quem se confessa assim.

12:38 da manhã  
Blogger f said...

Muito bom amigo Artur! Aplaudo a tua Opinião!

Abreijos

10:38 da manhã  
Blogger f said...

Mas não deixo de concordar com a Opinião aqui tb públicada...acho que se complementam...deixando ainda espaço para mais ser dito e escrito...pois há tanto ainda não referido...

10:42 da manhã  
Blogger f said...

**Perguntaria um outro**

Mas que importância tem ?
Talvez nenhuma...talvez toda...

10:44 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

sempre em luta!

4:57 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ALTO ALTO! ZUKBÁBÁLU! E PORQUÊ?

7:31 da manhã  
Blogger f said...

AHHH???

7:34 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

ouvi dizer quinda num é esta semna que chove!

11:45 da manhã  

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