sexta-feira, abril 27, 2007


Esta semana, a conselho de um amigo, visualizei dois filmes daqueles…
Um dos quais, aquele a que me vou referir como exemplo, Dogville.
Independentemente de caber nos meus padrões preferenciais em termos cinematográficos, reconheço-lhe no mínimo, originalidade.
Visto como uma obra, um livro, um quadro, uma peça de teatro, “um”, apresenta, acima de tudo, uma forte componente artística e portanto, comunicativa no sentido de fazer passar a mensagem.
Percebe-se na construção da trama e no foco humanista do tratamento dos personagens influências de escolas de filosofia, especialmente as gregas. Por duas vezes cita-se nos diálogos os ensinamentos dos estoicistas, uma escola que pregava o abandono da emoção para vivermos sem dor. E muito da moral da história gira em torno da diferença entre o altruísmo - dar sem esperar nada - e o quid pro quod - que exige uma compensação equivalente para cada acção.
Ora, onde quero chegar com este exemplo é precisamente a uma analogia com a sociedade moderna e mais concretamente com a geração mileurista.
Para quem viu o filme, se nós formos os habitantes de Dogville e a sociedade em que vivemos for a linda Nicole Kidman, parece-me certo haver um esgotamento das nossas relações de troca.
Em concordância com a nossa natureza (humana), não mais somos nómadas e temos por hábito instalarmo-nos em determinado espaço e extrair os seus recursos até à exaustão, até se esgotarem.
A meu ver, o mesmo se passa com este modelo social, democrático, consumista, marketeer, visual, sensacional. Está a esgotar-se e o vazio que sentimos com “mileuros” é não mais do que um sintoma da necessidade de renovação das nossas mentalidades e por conseguinte de toda a vida comunitária global, assim como das nossas relações de troca. Será chegada a altura de dar?
No filme, subentende-se uma implosão comunitária, no fim, só vive o cão da aldeia….saque, saque, mais saque, até à corrosão total dos valores morais, até à hora do pagamento.
Na história do planeta, o mesmo aconteceu com os anteriores modelos sociais, as ditaduras, os impérios, enfim…todos implodiram para o seu âmago, para se renovarem, precisamente por serem incompletos. Todos os seus grandes mentores foram sacrificados ou se suicidaram.
Será que o que nos falta para perceber o problema é apenas distanciamento histórico contextual??? Precisaremos de mais 50 anos ou 100 para depois ler nos livros??? Sim, porque de certo se tivéssemos vivido durante os processos evolutivos anteriormente mencionados, não os perceberíamos em toda a sua dimensão...se eu tivesse sido judeu na Alemanha de Hitler, apenas algures nos últimos 20 anos teria tomado contacto com a palavra Holocausto. No seu tempo, provavelmente não parecia mais do que uma injustiça social monstruosa.

Apenas mais um exercício de reflexão.

PS: Não sugiro nada, só crítico, no sentido de reflectir. (vivo para pôr em causa, afinal, cada um com a sua)
Procuro o distanciamento como ferramenta que me permita melhor avaliar os problemas e as realidades que me rodeiam e não dar soluções aos pontapés. Não vá às vezes ter sido assim, aos pontapés, na certeza de se estar a fazer o melhor, o ideal, a corresponder totalmente à urgência de acção, à primeira coisa que fez sentido, que ainda não percebemos o problema na sua real dimensão e criamos geraçoes mileuristas.
Obrigado pela sugestão dos filmes.


Becas, eu disse exactamente o que queria dizer com as palavras que quiz utilizar. Se não perceberes com as minhas podes por as tuas.

2 Comments:

Blogger f said...

"Hugo, eu disse exactamente o que queria dizer com as palavras que quiz utilizar. Se não perceberes com as minhas podes por as tuas."

1:49 da tarde  
Blogger hugo37 said...

Becas, então porque a "correcção" que fizeste ao meu comment do post anteriror??
Queres um chat?? Isto é um blog!!

6:53 da tarde  

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