quinta-feira, abril 19, 2007

mileuristas

Espido Freire (Bilbao, 1974) aborda neste livro a geração – ou, como se tem escrito, esta “nova classe social” – que ronda os 30 anos e cuja característica predominante é o ordenado mensal à volta de 1.000 euros. Trata-se de uma geração com dificuldades para abandonar a casa dos pais. São licenciados, com formação pós-graduada, bons conhecimentos de vários idiomas e informática. Foram levados a pensar que o canudo era a garantia de uma vida desafogada. Mas enganaram-se redondamente, ou foram enganados... Segundo a escritora, têm tudo o que a sociedade exige para triunfar de algum modo, contudo, carecem da estabilidade económica necessária para pensar em constituir família. Uma geração que prolonga a sua condição de eterna adolescente, sem qualquer consciência de grupo, assim obriga a competição, e que desfrutou do ócio, protecção e mimo por parte dos seus progenitores, a geração anterior que lutou contra os regimes ditatoriais. A geração mileurista vive no permanente paradoxo: conformista mas desesperada, educada mas sem expectativas, consumista mas pobre, desenraizada mas com sinais de identidade comuns. Um amplo colectivo de jovens que sobrevive com poucos meios em plena sociedade da opulência. Louis Chauvel, professor de Ciência Política, em entrevista ao jornal francês ‘Nouvel Observateur’ afirma: “Os novos pobres são os jovens.” Segundo Chauvel, os pobres do século XX – operários desqualificados, agricultores, idosos – pertencem a uma sociedade em vias de desaparecimento.

Em português a editora Dom Quixote tem publicados os livros "Irlanda", "Onde sempre é Outubro", "Pêssegos Gelados" e "Primeiro Amor". “ Mileuristas”, foi publicado pela Ariel espanhola, ainda sem tradução para português.


Os mileuristas nasceram já em democracia. É a geração das actividades extra-escolares, os que tiveram oportunidade de ir ao karate, ao inglês e à catequese, mas também à informática. Uma geração que viajou, que fez o inter-rail e que muitas vezes estudou com uma bolsa num país estrangeiro. São consumistas porque lhes ensinaram a ser. Eram filhos de pais jovens entre os anos 60 e 80 que viveram as transições politicas. A geração dos seus pais, proveniente de famílias numerosas, lutou pelos seus direitos, saltando rapidamente para o poder. Constituíram oportunidades e usufruíram de garantias do Estado, dadas em anos de grandes utopias. Foi uma geração que conseguiu comprar uma segunda casa para passar férias e que ambicionou que os seus filhos tivessem ainda uma vida melhor. Para eles ter um filho médico, engenheiro, arquitecto ou economista era uma garantia de sobrevivência. Por isso não lhes pediram outra coisa senão que estudassem e fossem para a universidade. Nós, os mileuristas, herdamos em parte as ânsias desses pais e apenas quisemos estudar para garantir um emprego e uma casa. Conseguimo-lo com esforço e muita ajuda dos papás.
Quando chegamos à universidade rapidamente nos demos conta que éramos já demasiados. Com tantos licenciados não há empregos compatíveis com as nossas aptidões. Em parte, isso explica os contratos precários um pouco por toda a Europa e a sua versão portuguesa dos recibos verdes, que é muito mais vergonhosa e intolerante. Sem emprego, muitos de nós ainda optamos por mais formação, fizemos mestrados e mesmo doutoramentos, alguns através de bolsas pagas pelo Governo e ajudado pela Comunidade Europeia. Contudo, não sabíamos que, dez anos mais tarde continuaríamos sendo bolseiros. Em geral, ninguém podia ter percebido que a sociedade tinha mudado e que tinha deixado para trás toda uma geração sem saber muito bem como nem quando.
Não fomos educados a cooperar e sim a competir. Aliás, fomos educados a viver o “momento”. Fomos a primeira geração que viveu a invasão do consumismo norte-americano, a primeira geração que podia passar o seu aniversario com os amigos no McDonalds ou no chinês. Fomos a geração que teve uma semanada ou mesada, inclusivé dobrada quando tínhamos pais divorciados ou separados. Portanto, não tínhamos muito dinheiro, mas tínhamos sempre algum para gastar. Vivemos a chegada da Zara e da Mango, que nos permitiu renovar constantemente o guarda-roupa. Somos portanto uma geração sem trabalho assegurado, em geral pouco remunerado, e sem qualquer capacidade de poupar. Gostamos de sair à noite porque esta é uma das gratificações imediatas a que estamos habituados. Somos uma geração que viu tanta publicidade, tantas versões invertidas e revertidas do mundo, que curiosamente trocamos o branco pelo negro e não estranhamos. Somos, por isso, uma geração cínica. Uma geração de “comboiadas”, que se ri um pouco de tudo, porque vivemos a sensação de que outra coisa não se pode fazer: tem sido divertido viver assim, porque usufruímos de muito lazer, porque fomos mimados, protegidos e crescemos com televisão e com 1000 comodidades. No entanto, já cansa” - diz a rapariga Carolina Alguacil, inventora do termo”mileuristas”, numa carta aberta, em 2002 ao jornal “El País”. Esta paródia em que a nossa vida se tornou apenas tenta esconder geralmente um vazio interior. Um vazio por ter perdido todas as expectativas e referentes.

3 Comments:

Blogger ...QUE VOA... said...

bem nao sabia que me conheciam tao bem... Mileurista, sim senhora! levo este recado para casa

12:29 da manhã  
Blogger f said...

não sei que dizer...

tocam-me estas coisas...

não deixando de ver o tom cinzento que se debita em termos de obrigatória frustração... são ideias fechadas de algo que não o é...totalmente...

penso que não é ou não tem que ser bem assim...mas quem sou eu...um mero e relativo observador...

Erguemos nosso caminho...é isso que sentimos... mas tal "desgraça"...deu-nos o despreendimento o amor e aprendizagem que nunca gerações anteriores obtiveram antes...um racíocinio limpído e claro...por entre "o bom" e "o mau"...o kaos e a ordem...etc...deu-nos o equilibrio...deu-nos um nome e um livro...e h eh eh deu-nos muito mais do que qualquer desses senhores ousou sonhar em termos de entendimento e compreensão humanas (qto vale isso) e da humanidade...deu-nos uma reendição...uma aceitação e um não saber...deu-nos tudo que achámos ver em nós...hoje agora e sempre...

Não há que baixar os braços Há que ergue-los..."Sempre me luta"...a nossa vida escrevesse todos os dias...por aquilo que somos... ou estamos a ser...somente...tal reconhecimento...é um ponto fortíssimo de partida...para o reencontro com nós mesmos...e consequênte procura e observação dentro... ...dentro... dentro... dentro... do que existe...em meio de uma transformação de um acraditar...de um a forte esperança que nunca morre... o que cada um é vale por si...e por todos nós...de uma certa maneira...se acrediterem...como eu acredito... é como pedir e te será dado...e como bater a porta e ela se abrir...vamos... não há entusiasmo a perder...nem a ganhar... há uma Vida e essa sim...para Viver...Vivam e nunca desistam de abrir as portas de v/Coração...Ele trás todas as possibilidades...iloveyou

muito a ser feito em prol de uma integração real da raça humana...

talvez a noção de grupo...venha e tenha que ser cultivada...em termos mais latos... questóes...como o Rumo do próprio Sistema Social como sistema de vida e evuloção e progresso... é uma falha um buraco sem fundo...porque estamos afinal a dar conta que não somos máquinas nem nunca o haveremos de ser por muito que o homem sonhe de olhos abertos...(com uma eternidade tecnologicamente assistida)e se veja comendo dinheiro e cagando dinheiro para sobreviver...morreu! e ninguém o avisou...a sociedade morreu!e ninguém a avisou!

Nos somos portadores da vida... de uma nova e única visão social e do mundo... não podemos deixar que nos façam sentir confinados a paredes sociais e economicas... barreiras virtuais... duma sociedade cada vez mais virtual...temos que passar a frente e ser preserverantes...e em cooperacção activa...ou competição...expor...seja para um amigo ou um plateia nossos pontos de vista nossos mais profundos padrões de identificação do que é a Vida e de como nos podemos melhorar em termos de integração fisica psicologico-espiritual e acrescimos...

somos todos da mesma carne e do mesmo Deus... AAHHH ON OFF

11:38 da manhã  
Blogger f said...

Como diria o Venancio...: Chegou a nossa hora de falar...Eeehehhh

11:42 da manhã  

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