sexta-feira, abril 20, 2007

mileurista.1

Quando, aos 15 anos, Jorge Silva se imaginava com mais 15 via-se com uma criança pequena ao colo, a mulher ao lado e um cão deitado aos pés. Os quatro habitavam uma casa com jardim e garagem. O tempo passou, o Jorge concluiu uma licenciatura em Sociologia, fez uma pós-graduação, pensa no mestrado e, aos 31 anos, vive num minúsculo apartamento no bairro da Graça, em Lisboa. Partilha a casa e a renda – 460 euros – com dois amigos. O Jorge trabalha há cinco anos numa editora, onde aufere um salário bruto aquém dos 700 euros. “Não é que seja infeliz, mas tinha imaginado uma vida diferente, com alguma estabilidade. “Ganhar mil euros não era mau... eu sou mais um ‘setecentoseurista”, ri-se Jorge Silva, abrindo uma lata de cerveja com o cuidado de não estorvar o gato Tolstoi adormecido sobre os seus joelhos. “Na minha vida de sonho tenho um cão, mas o meu horário de trabalho e a dimensão do meu apartamento não permitem.” É mais fácil tratar do Tolstoi. O Jorge não tem automóvel. O Jorge já não pensa na casa com jardim, mas ainda não perdeu a esperança de ser pai. “Talvez, com um bocado de sorte, aos 40 ou aos 50 anos”, ironiza. Por que não agora? “Impossível. E não é só por causa do dinheiro que não tenho. Também o ritmo de trabalho e os horários são incompatíveis com a vida familiar.”
De acordo com um estudo da socióloga Natália Alves, a média das remunerações auferidas pelos licenciados da Universidade de Lisboa no primeiro emprego é de 709,90 euros. Mais de metade – 57,8 por cento – ganha entre 501 e 1000.